terça-feira, 20 de maio de 2008

O Casamento



Talvez a maior causa de desarmonia conjugal seja a desinformação sobre as desigualdades masculino-feminina em relação à maneira de vivenciar a realidade e, inclusive, em relação à sexualidade. A crescente participação da mulher no mercado de trabalho e seu maior distanciamento daquilo que representava a mulher voltada à vida doméstica e à educação da prole, resultou em nova postura de desenvolvimento afetivo, social e educacional das novas gerações. Com isso a disponibilidade de tempo para que as pessoas se dedicassem a si mesmas e aos relacionamentos afetivos com os outros foi severamente prejudicado. O trabalho e a velocidade cotidiana afastaram as pessoas do convívio comum, isolando-as, cada vez mais a si mesmas. A família, como instituição social, sempre esteve sujeita às influências da cultura e da história e a idéia da família como um grupo relativamente bem estruturado envolvendo o pai, a mãe e os filhos, em um grande número de vezes não corresponde mais à diversidade dos modelos de família atuais e da realidade que muitas famílias vivem. Tem sido cada vez mais comum encontrarmos famílias compostas apenas de um adulto e as crianças, tendo em vista o divórcio, a viuvez ou adoções de crianças por pessoas solteiras. Conforme cita Almir Linhares de Faria, a família também parece ser uma instituição que freqüentemente atravessa crises. "Quando Adão, segundo a narrativa do Gênesis, diz ao Senhor: "Foi a mulher que tu me destes", eclode a primeira crise familiar. Aliás, a primeira família foi marcada por fortes crises, incluindo um fratricídio". Hoje, talvez como sinal dos tempos, a pessoa está vulnerável à todo tipo de crises e, inegavelmente, existem estreitas relações entre as crises individuais e as crises familiares e a crise individual acaba por repercutir no conjunto familiar. De modo geral, quem está bem consigo mesmo não incomoda aos demais, e a recíproca é verdadeira. Tenho visto casamentos fugazes devido ao desemprego, às dificuldades econômicas do casal, às dificuldades econômicas dos parentes próximos (a sogra teve que morar com o casal), aos transtornos de comportamento dos filhos (conduta, hiperatividade, etc) e outras circunstâncias adversas. Da mesma forma que existem alguns rompimentos conjugais devido à dificuldades existenciais de um dos membros do casal, tais como depressão, drogadicção, jogo patológico, alcoolismo, cleptomania, exibicionismo e mais um sem número de alterações. A sexualidade é também um dos fortes motivos para separação conjugal. O impulso sexual, tanto feminino quanto masculino, pode se manifestar através da sexualidade erótica ou da sensualidade sublime, embora hajam predominâncias. De modo geral, a mulher se satisfaz mais com a sensualidade sublime. O impulso sexual que atende à sensualidade sublime na mulher pode ter início no café da manhã, através de alguma demonstração de carinho por parte do parceiro, pode exacerbar-se se o parceiro abre a porta do carro, se demonstra qualidades desejáveis para um bom companheiro, como compreensão, participação, cumplicidade, etc. Finalmente, o impulso sexual feminino se completa com a intimidade na cama, considerando a penetração uma parte (nem sempre a mais importante) da importância sexual global do parceiro. Para a sensualidade, notadamente a sensualidade sublime, é ativada uma parte do Sistema Nervoso Central chamada de Sistema Límbico. Emoções e sentimentos, como ira, pavor, paixão, amor, ódio, alegria e tristeza são originadas no Sistema Límbico. A parte do Sistema Límbico relacionada mais especificamente às emoções e seus estereótipos comportamentais denomina-se circuito de Papez. Concluindo, do circuito de Papez faz parte uma região nobre chamada Hipotálamo e este, finalmente, é quem governa a expressão das emoções nos seres humanos. Portanto, o Hipotálamo regula a função de abastecimento do sistema endócrino e processa inúmeras informações necessárias à constância do meio-interno corporal (homeostasia). Coordena, por exemplo, a pressão arterial, a sensação de fome e, em nosso caso, o desejo sexual. Psiconeurologicamente pode-se deduzir que a maioria das emoções negativas compromete o Sistema Límbico a ponto de prejudicar o desejo sexual. Isso ocorre, por exemplo, na raiva, ira, depressão, ansiedade aguda, etc. A influência límbica sobre o sistema genital feminino aparece claramente nas alterações menstruais ocasionadas por razões emocionais. Menos visível, mas mais incômodas, são as alterações da libido igualmente ocasionadas por emoções. A sexualidade masculina, por sua vez, costuma ser mais relacionada aos lobos frontais e temporais. Verificou-se que lesões bilaterais dos lobos temporais, por exemplo, podem resultar na síndrome de Klüver-Bucy, caracterizada por comportamento hiper­sexual e outros desequilíbrios do comportamento social. O desejo sexual masculino se estimula mais pelos órgãos dos sentidos do que pelos sentimentos, como é o caso das mulheres. Para a sexualidade masculina é muito importante a visão, o tato, olfato. Talvez por causa da necessidade desses estímulos, o homem sente mais cobiça sexual que as mulheres, buscam mais novidades sexuais que as mulheres. Estas, entretanto, experimentam mais a cobiça por objetos de grande valor simbólico, como bilhetinhos, cartas, datas, músicas, jóias, perfumes, flores, etc. Números da Violência DomésticaNos EUA, estima-se que 4 milhões de mulheres por ano são vítimas de algum tipo de agressão séria por parte do companheiro, e cerca de 1 milhão por ano vítima de violência não fatal (Rush, 2000). O grupo que reporta mais violência é o dos 19 aos 29 anos de idade, alertando para a maior necessidade de prevenção nesta faixa etária (Bachman & Saltzman, 1995). Só no ano de 1996, as estatísticas oficiais dão conta que 1,5 milhões de mulheres e 834.700 homens sofreram abuso físico ou sexual por parte do seu companheiro (Tjaden & Thoennes, 2000). Em 1998, cerca de 1.830 homicídios foram atribuídos ao companheiro, sendo que 3/4 das vítimas são mulheres (Rennison & Welchans, 2000). Entre os anos de 1993 e 1998, cerca de 2/3 das vítimas de abuso pelo companheiro referem seqüelas físicas, enquanto que 1/3 reporta apenas ameaças ou tentativas de violência.Entre as vítimas com seqüelas graves (por exemplo, ossos partidos, perfurações de balas) a percentagem entre homens e mulheres é bastante semelhante (4 e 5% respectivamente), o mesmo não acontecendo para as seqüelas menores (por exemplo, cortes e feridas), que são mais frequentemente encontradas nas mulheres (mais de 4/10) do que nos homens (menos de 3/10).Sugarman e Hotaling (1989) identificaram onze trabalhos que relatam as elevadas taxas e agressão física no contexto das relações íntimas pré-maritais, que variam entre 20 e 59%. Ainda estes autores, utilizando uma amostra de estudantes americanos, estimam que cerca de 33% dos homens tiveram comportamentos de abuso físico e 36% das mulheres foram vítimas deste tipo de abuso no contexto das suas relações interpessoais íntimas.Por sua vez, Bergman (1992), numa amostra de estudantes pré-universitários americanos, encontra que 15,7% das mulheres e 7,8% dos homens referem abuso físico por parte do companheiro. Carver (2000), numa amostra de estudantes (pré-universitários) americanos do sexo feminino que responderam às Revised Conflict Tactics Scales (CTS-2, Straus, Hamby, Boney-McCoy, & Sugarman, 1996), observa também que um número elevado de mulheres está envolvido numa relação violenta com o companheiro (52%).Mais recentemente, Straus, Aldrighi, Borochowitz, Brownridge, Chan, Figueiredo, et al. (2002) considerando a prevalência de abuso físico numa amostra de 3.086 estudantes universitários de ambos os sexos oriundos de 14 países, mostram que 28,2% dos sujeitos inquiridos relatam ter perpetrado algum tipo de abuso físico sobre o companheiro (27,7% do sexo masculino e 28,7% do sexo feminino). Para, além disso, em 9,7% da amostra estão presentes formas mais severas de abuso físico, embora esta prevalência oscile consoante os países entre 16 e 51%. Quando se comparam os diferentes locais onde o estudo foi realizado, é no México (Juarez) que se encontram valores superiores de abuso físico no relacionamento íntimo (referido por 51% dos participantes), nomeadamente nas suas formas mais severas (15,9%). Entre os países em que é menor a prevalência de abuso físico perpetrado sobre o companheiro, encontra-se o Canadá (Hamilton), tanto para o abuso físico total (16,1%), como para as formas mais severas deste tipo de abuso (5,8%). Portugal e Israel apresentam valores ligeiramente inferiores à maioria dos países, no que concerne ao abuso físico, quer em termos gerais (20%), quer no referente às suas formas mais severas (7,1%). (Carla Paiva & Bárbara Figueiredo)

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