terça-feira, 20 de maio de 2008

Impacto dos Transtornos mentais




Impacto dos Transtornos
Os Transtornos Mentais e Comportamentais exercem considerável impacto sobre os indivíduos, as famílias e as comunidades. Os indivíduos não só apresentam sintomas inquietadores de seu distúrbio como sofrem também por estarem incapacitados de participar em atividades de trabalho e lazer, muitas vezes em virtude de discriminação. Eles se preocupam pelo fato de não poderem arcar com suas responsabilidades para com a família e os amigos, e temem ser um fardo para os outros. Segundo estimativas, uma em quatro famílias tem pelo menos um membro que sofre atualmente um transtorno mental ou comportamental. Essas familias vêem­se obrigadas não só a proporcionar apoio físico e emocional, como também a arcar com o impacto negativo da estigmatização e da discriminação, presentes em todas as partes do mundo. Embora o ônus da atenção a um familiar com distúrbio mental ou de comportamento não tenha sido adequadamente estudado, indicações disponíveis parecem mostrar que essa carga é realmente substancial (Pai e Kapur 1982; Fadden et al. 1987; Winefield e Harvey 1994). Os encargos que recaem sobre a família vão desde as dificuldades econômicas até as reações emocionais às doenças, ao estresse em face de um comportamento perturbado e ao comprometimento da rotina doméstica e restrição das atividádes sociais (OMS 1997a). Os gastos com o tratamento de doenças mentais recaem, muitas vezes, sobre a família, seja por não haver seguro disponível, seja porque o seguro não cobre os Transtornos Mentais. Além da carga diretamente relacionada aos Transtornos Mentais e Comportamentais, é preciso levar em conta as oportunidades perdidas. As famílias que têm um membro que sofre um distúrbio mental fazem diversos ajustes e assumem compromissos que impedem outros membros da família atingir o seu pleno potencial no trabalho, nas relações sociais e no lazer (Gallagher e Mechanic 1996). Esses são os aspectos humanos do ônus dos Transtornos Mentais difíceis de avaliar e quantificar, não obstante, são muito importantes. As famílias se vêm na contingência de dedicar uma parcela considerável do seu tempo para cuidar de um parente mentalmente enfermo, sofrem privações econômicas e sociais por não ser esse membro familiar inteiramente produtivo. Há ainda o constante temor de que a recorrência da doença possa causar perturbação repentina e inesperada na vida dos membros da família. Portanto, é grande e com múltiplos aspectos o impacto dos Transtornos Mentais sobre as comunidades. Há o custo da provisão de atenção, a perda de produtividade e certos problemas legais, incluindo a violência, associados com alguns Transtornos Mentais, embora a violência seja causada muito mais freqüentemente por pessoas "normais" do que por indivíduos com Transtornos Mentais.
Impacto na Qualidade de Vida
Os Transtornos Mentais e Comportamentais causam tremendos distúrbios na vida daqueles que são afetados e de suas famílias. Embora não seja possível medir toda a gama de sofrimento e infelicidade, um dos métodos de aferir o seu impacto é usar instrumentos que medem a qualidade da vida (QDV) (Lehman et al. 1998). As medidas de QDV usam classificações subjetivas do indivíduo em diversas áreas, procurando avaliar o impacto dos sintomas e dos transtornos sobre a vida (Orley et al. 1998). Há diversos estudos sobre a qualidade da vida das pessoas que sofrem distúrbios mentais, os quais concluem que o impacto negativo, embora não seja substancial, é sustentado (UK700 Group 1999). Já se demonstrou que a qualidade da vida continua sendo baixa, mesmo depois da recuperação de Transtornos Mentais, em virtude de fatores sociais que incluem a persistência do estigma e da discriminação. Resultados de estudos de QDV indicam também que os indivíduos com Transtornos Mentais graves que vivem em hospitais psiquiátricos de atenção prolongada, têm uma qualidade de vida mais baixa do que os que vivem na comunìdade. Um estudo recente demonstrou claramente que o não atendimento das necessidades sociais e de funcionamento básicas foram os mais importantes previsores de uma baixa qualidade de vida entre pessoas com Transtornos Mentais graves (UK700 Group 1999). O impacto sobre a qualidade da vida não fica limitado aos transtornos mentais graves. Os transtornos da ansiedade e do pânico também têm efeito significativo, especialmente no que se refere ao funcionamento psicológico (Mendlowicz e Stein ­2000; Orley e Kuyken 1994).
Comorbidade
É muito comum a ocorrência simultânea de dois ou mais transtornos mentais no mesmo indivíduo. Isso não é muito diferente da situação dos transtornos físicos, que tendem também a ocorrer juntos, muito mais freqüentemente do que poderia ser explicado pelo acaso. A ocorrência simultânea de dois ou mais transtornos mentais no mesmo indivíduo é particularmente comum com o passar da idade, quando diversos transtornos físicos e mentais podem ocorrer juntos. Os problemas de saúde física podem, não somente coexistir com distúrbios mentais como a depressão, como também prognosticar o início e a persistência da Depressão (Geerling et al. 2000). Dentre os estudos metodologicamente válidos de amostras representativas nacionais, um foi feito nos Estados Unidos (Kessler et al. 1994) e mostrou que 79% de todos os enfermos apresentavam comorbidade. Em outras palavras, somente em 21% dos pacientes se verificou a ocorrência de um transtorno mental isolado. Mais da metade dos transtornos de toda a vida ocorreu em 14% da população. Achados semelhantes foram obtidos em estudos de outros países, embora não seja copiosa a informação disponível dos países em desenvolvimento. A Ansiedade e os Distúrbios Depressivos freqüentemente ocorrem juntos. Observa-se essa comorbidade em aproximadamente metade das pessoas com esses transtornos (Zimmerman et al. 2000). Outra situação comum é a presença de transtornos mentais associados com o uso e a dependência de substâncias. Entre pessoas atendidas por serviços relacionados com o uso de álcool e drogas, entre 30% e 90% apresentam um transtorno duplo (Gossop et al. 1998). A taxa de transtornos devidos ao uso de álcool é também elevada entre os que buscam serviços de saúde mental, que é de 65%, segundo comunicação de Rachliesel et al. (1999). Os transtornos devidos ao uso de álcool são também comuns (12-50%) entre pessoas com esquizofrenia. A presença de comorbidade substancial tem sérias repercussões na identificação, tratamento e reabilitação das pessoas afetadas. A incapacidade dos indivíduos sofredores e o encargo para as famílias também crescem na mesma proporção.
Suicídio
O suicídio resulta de um ato deliberado, iniciado e levado a cabo por uma pessoa com pleno conhecimento ou expectativa de um resultado fatal. O suicídio constitui hoje um grande problema de saúde pública. Tomada como média para 53 países, dos quais há dados completos disponíveis, a taxa agregada e padronizada de suicídio em 1996 foi de 15,1 por 100.000 habitantes. A taxa de suicídio é quase universalmente mais alta entre homens em comparação com mulheres, por um coeficiente agregado de 3,5 homens para cada mulher. Nos últimos 30 anos, as taxas de suicídio nos 39 países dos quais há dados completos disponíveis, para o período 1970-96 os índices de suicídio parecem ter se mantido bastante estáveis, mas as taxas agregadas atuais ocultam significativas diferenças quanto aos sexos, grupos etários, geografia e tendências a mais longo prazo. Geograficamente, verificam-se consideráveis variações dos índices de suicídio. As tendências observadas nos mega-países do mundo, aqueles que têm mais de 100 milhões de habitantes, provavelmente proporcionarão informações idôneas sobre a mortalidade por suicídio. Há informações disponíveis em 7 de 11 desses países nos últimos 15 anos. As tendências variam de um aumento de quase 62% no México a um declínio de 17% na China, enquanto os Estados Unidos e a Federação Russa se deslocam em direções opostas pelos mesmos 5,3%. São necessárias duas observações: primeiro, é muito provável que somente o tamanho das suas populações coloque esses países na mesma categoria, uma vez que são diferentes em praticamente todos os outros aspectos. Segundo, a magnitude da mudança não reflete a verdadeira magnitude dos índices de suicídio naqueles países. No último ano para o qual existem dados disponíveis, os índices de suicídio variam de 3,4 por 100.000 habitantes no México, a 14,0 por 100.000 na China e 34,0 por 100.000 na Federação Russa. E muito difícil, senão impossível, encontrar uma explicação comum para essa diversidade de variações. A mudança socioeconômica (em qualquer sentido), muitas vezes é apontada como possível fator contribuinte para um aumento dos índices de suicídio. Contudo, embora isso tenha sido documentado em várias ocasiões, têm sido também observados aumentos dos índices de suicídio em períodos de estabilidade socioeconômica, assim como se têm observado taxas de suicídio estáveis em períodos de grandes transformações socioeconômicas. Não obstante, essas cifras agregadas podem ocultar diferenças significativas entre alguns setores da população. Por exemplo, uma evolução plana dos índices de suicídio pode ocultar um aumento das taxas para o sexo masculino estatisticamente compensado por uma diminuição das taxas para o sexo feminino (como ocorreu, por exemplo, na Austrália, Chile, Cuba, Espanha e Japão); aplicar-se-ia o mesmo a grupos etários extremos, tais como os adolescentes e os idosos (por exemplo, na Nova Zelândia). Já se mostrou que os aumentos das taxas de desemprego são, geralmente mas nem sempre, acompanhados de uma baixa dos índices de suicídio na população geral (por exemplo, na Finlândia), mas também de uma alta dos índices de suicídio entre os idosos e aposentados (por exemplo, na Suíça). O alto consumo de álcool, como ocorre nos Estados Bálticos e na Federação Russa, juntamente com a facilidade de acesso a certas substâncias tóxicas (por exemplo, na China, Índia e Sri Lanka) e às armas de fogo (por exemplo, em El Salvador e nos Estados Unidos), parecem ter alguma correlação positiva com os índices de suicídio em todos os países industrializados ou desenvolvidos estudados até agora. Mais uma vez, as cifras agregadas podem esconder grandes discrepâncias entre, por exemplo, áreas rurais e urbanas (como é o caso da China e da República Islâmica do Irã). O suicídio é uma das principais causas de morte de adultos jovens. Situa-se entre as três maiores causas de morte na população de 15 a 34 anos para ambos os sexos. Isso representa uma tremenda perda para a sociedade em pessoas jovens nos anos produtivos da vida. Só existem dados disponíveis sobre tentativas de suicídio de alguns países; indicam elas que o número de tentativas de suicídio pode ser até 20 vezes maior do que o de suicídios consumados. As lesões auto-provocadas, inclusive o suicídio, foram a causa de cerca de 814.000 mortes em 2000. Dos transtornos mentais que levam ao suicídio, o mais comum é a Depressão, embora também se registrem taxas elevadas de Esquizofrenia. Ademais, o suicídio muitas vezes se relaciona com o uso de substâncias - seja na pessoa que o comete, seja dentro da família. A proporção maior de suicídios em alguns países da Europa central e oriental foi recentemente atribuída ao uso de álcool (Rossow 2000). É bem conhecido o fato de que a disponibilidade de meios para cometer suicídio tem significativo impacto sobre os suicídios ocorridos em qualquer região. Esse aspecto foi mais estudado com relação à disponibilidade de armas de fogo, tendo-se constatado que ocorre alta mortalidade por suicídio entre pessoas que compraram tais armas no passado recente (Wintemute et al. 1999). De todas as pessoas que morreram devido a lesões com armas de fogo nos Estados Unidos em 1997, um total de 54% morreram por suicídio (Rosenherg et al. 1999). A explicação precisa das variações dos índices de suicídio deve ser sempre considerada no contexto local. Há premente necessidade de vigilância epidemiológica e pesquisa local apropriada para contribuir à compreensão melhor desse grave problema de saúde pública, melhorando assim as possibilidades de prevenção.


Relatório Sobre a Saúde no Mundo, 2001- Organização Panamericana da Saúde - Organização Mundial de Saúde - ONU, World Health Report - WHO - Genève - Swiss - who@who.int, in. PsiqWeb, Internet, disponível em www.psiqweb.med.br

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