quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Conceitos de normalidade



A Psicopatologia e a validade do diagnóstico clínico na perspectiva humanista é um brilhante artigo de Leon Gonzaga de Vasconcelos Lopes. Ele fala sobre os conceitos de normalidade. Veja um trecho:

"A normalidade é concebida, por um lado, como a ausência de patologia, e , por outro, como a conformidade com o tipo médio. Vale ressaltar que a média é uma medida estatística, puramente descritiva e operacional, que tende a ser considerada como regra e como valor, podendo proporcionar uma interpretação equivocada, uma vez que não leva em conta as singularidades, as dissidências e as anomalias, baseando-se em valores atribuídos ao indivíduo e ao comportamento, cuja função é avaliar e detectar a utilidade social das condutas e dos indivíduos (Doron & Parot, 2000). No quadro de conceituação da normalidade, existem diversos referenciais que podem ser considerados como critério para a diferenciação entre o normal e o patológico. Entre eles, podemos mencionar, as quatro principais perspectivas do enfoque das ciências comportamentais e sociais para à normalidade, formuladas por Offer e Dabshin (Kaplan, 1997). São elas:

- Normalidade como saúde: é fundamentado no enfoque psiquiátrico tradicional que diferencia saúde e de doença. “A maioria dos médicos iguala normalidade com saúde, e vêem a saúde como um fenômeno quase universal” (Kaplan, 1997, p.18). Entende-se, desta maneira, que os sinais e os sintomas que estejam em “desajuste” com o que é comum (ou normal), são um sinal de que algo está errado (ou é anormal). Por outro lado, a falta de sinais e sintomas indicaria um organismo saudável.

- Normalidade como utopia: é a uma noção de normalidade baseada em uma conjunção harmoniosa e plena do sistema nervoso, funcionando de maneira excelente. Essa concepção é derivada de uma vertente da psiquiatria e da psicanálise que tratam sobre a pessoa ideal ou sobre o tratamento mais eficaz. Ou seja, algo teorizável, entretanto inconcebível.

- Normalidade como média: é baseada em uma média estatística dos estudos normativos do comportamento, na qual traços da personalidade são entendidos como um meio de medida estatística ou de medida padronizada do comportamento, como no psicodiagnóstico. A variabilidade restringe-se ao contexto de grupos e não no contexto singular. “Neste modelo presume-se que as tipologias de caráter podem ser medidas estatisticamente”(Kaplan & Sadok, 1998).

- Normalidade como processo: admite esta concepção que o comportamento está relacionado a situações ou a fases de desenvolvimento da personalidade, cada estágio é possuidor de características intrínsecas. A temporalidade é essencial para uma definição completa de normalidade. A teoria que mais caracteriza esta visão é a de Erik Erikson, que aborda os oito estágios evolutivos imprescindíveis para a conquista de um funcionamento adulto maduro, onde o comportamento normal é caracterizado como o resultado final de sistemas que interagem entre si."

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